Por Alan Capriles
Teologia da Prosperidade não
é algo teórico pra mim. Não preciso estudar para escrever acerca desse assunto,
pois conheci essa doutrina pela prática. É claro que sinto vergonha em dizê-lo,
mas devo confessar que já fui um dos pregadores dessa teologia errônea, que
motiva a ganância nas pessoas. Essa foi uma fase que, graças a Deus, durou
pouco tempo, mas que considero vergonhosa para o meu ministério.
Tudo começou quando
participei de um famoso congresso, no qual seu preletor principal foi um
pregador norte-americano, que veio a convite de um renomado pastor brasileiro.
Como eu admirava muito esse pastor, especialmente por sua fidelidade às
Escrituras, imaginei que qualquer pessoa indicada por ele deveria ser digna de
confiança. E assim, fui absorvendo os ensinamentos daquele gringo,
absolutamente desarmado de qualquer senso crítico. Ouvi coisas fascinantes, que
eu nunca antes havia aprendido, mas que hoje percebo serem, em grande parte,
distorções da Palavra de Deus. O pastor que eu tanto admirava também ficou
fascinado por essa mensagem, a ponto de tornar-se o maior defensor dessa
doutrina em nosso país. O problema é que, ao contrário do que aconteceu comigo,
ele não se arrependeu, mas continuou propagando esse mal, usando a mídia para
influenciar milhares de outros pastores, tanto no Brasil, quanto no mundo.
Gostaria que tudo não
passasse de um terrível pesadelo, pois é angustiante testemunhar que isso está
mesmo acontecendo! A teologia da prosperidade está se disseminando como
gangrena pelo corpo de Cristo, de tal forma que é cada vez mais difícil se
encontrar uma igreja que esteja livre dessa contaminação. Sendo assim, sinto-me
na obrigação de escrever esse alerta. Mas devo esclarecer que meu combate não é
contra pessoas e sim contra uma gravíssima distorção da doutrina cristã. Aos
que prosseguirem nessa leitura, aconselho que peguem suas Bíblias e confiram se
o que estou afirmando é mesmo da maneira como estou dizendo. “Porque nada
podemos contra a verdade, senão em favor da própria verdade.” (2 Co 13:8)
Em primeiro lugar,
precisamos definir o que é a teologia da prosperidade. Em poucas
palavras, a teologia da prosperidade é o conceito de que Deus deseja
riqueza para todos os seus filhos e de que, se algum filho de Deus ainda não é
rico, seria porque ele não está “semeando” corretamente. Segundo essa
teologia, o semear corretamente seria ofertar dinheiro no ministério de alguém
rico, ou em algum rico ministério, a fim de se colher da mesma prosperidade que
essa pessoa ou instituição usufrui “da parte de Deus”. Basicamente, é isso.
Por considerar que a riqueza
é prova da bênção de Deus, a teologia da prosperidade deprecia os pobres,
tratando-os como se eles fossem todos miseráveis que estivessem a mendigar o
pão. Mas isso não é verdade! Precisamos ter em mente que “pobreza” não é o
mesmo que “miséria”. Apesar de todo miserável ser pobre, nem todo pobre
é miserável. Uma pessoa que leva uma vida simples pode até ser considerada
“pobre” pela sociedade, mas isso não significa que ela esteja na miséria. O
problema é que a teologia da prosperidade não aceita que o cristão tenha uma
vida simples.
É importante se enfatizar
isso: a teologia da prosperidade não aceita que o cristão tenha uma
vida simples. Para os defensores dessa teologia, “Deus não quer que você se
contente com o pouco que tem, mas que busque cada vez mais e mais riquezas,
pois desta forma Deus estará sendo glorificado na sua vida”. Sendo assim, a
teologia da prosperidade é preconceituosa em relação aos pobres, chegando a
dizer que pobreza é escravidão e que ser pobre é pecado! [1] Os
pregadores dessa doutrina procuram convencer as pessoas de que Deus espera que
elas o busquem com expectativas de uma recompensa, que seriam as riquezas
materiais. Um famoso pastor brasileiro chegou a chamar de “trouxa” quem oferta
a Deus somente por amor, sem esperar nada em troca.
Teólogos renomados, como
John Piper [2], são diretos em denunciar que a teologia da prosperidade é
“outro evangelho”, diferente do evangelho pregado por Jesus e pelos apóstolos.
Isso é gravíssimo, pois Paulo declarou serem malditos aqueles que pregam outro
evangelho (Gálatas 1:8-9). Mas não é difícil perceber porque se trata de outro
evangelho. Basta considerarmos que a teologia da prosperidade nada mais
é do que a troca da mensagem “Deus quer que você se arrependa” pela mensagem
“Deus quer que você seja rico”. Obviamente, essa última mensagem é uma boa
nova que consegue atrair multidões, razão pela qual tantos pregadores ficam
fascinados por essa teologia. As pregações bíblicas, que levavam ao
arrependimento, estão agora sendo substituídas por mensagens com títulos
atraentes, tais como “Eu nasci pra ser feliz” ou “Uma vida de prosperidade” e
isso têm enchido rapidamente as igrejas. Algo semelhante ocorre na maioria dos
programas evangélicos da TV, nos quais a mensagem precisa ser agradável aos
ouvintes a fim de que se obtenha mais audiência e, consequentemente, mais
colaboradores para se pagar o programa.
Aliás, foi num desses
programas evangélicos da TV que um conhecido pastor desafiou que alguém
apontasse o erro teológico em uma de suas mensagens acerca de prosperidade.
Aceitei o desafio e analisei biblicamente a mensagem. Como eu já suspeitava, o
“veneno” dessa teologia estava sutilmente espalhado pela pregação, passando
despercebido para quem não estiver atento, ou para os que não conhecem o
verdadeiro evangelho de Cristo. (Meu próximo artigo será uma análise
completa dessa mensagem, na qual já estou trabalhando)
Mas, dentre todos os erros,
gostaria de destacar aquele que é suficiente para se derrubar essa falsa
doutrina:
A teologia da
prosperidade é frontalmente contrária aos ensinos de Cristo e dos apóstolos em
relação a se acumular ou se desejar as riquezas deste mundo.
O que estou afirmando pode
ser facilmente comprovado, bastando que se faça uma simples releitura do Novo
Testamento. De fato, foi exatamente assim que me dei conta do meu erro e de que
precisava abandonar completamente esse falso evangelho. Qualquer cristão
que faça uma releitura dos evangelhos e das epístolas poderá ter o mesmo
despertamento para a verdade! O problema é que muitos quase não leem o
Novo Testamento e a maioria dos pastores só abrem suas bíblias
“profissionalmente”, a fim de procurar textos para pregar – textos que, na
maioria das vezes, estão no Antigo Testamento. [3]
Mas, consciente de que essa
releitura bíblica demanda certo tempo, relaciono a seguir alguns desses
versículos, os quais são totalmente opostos à teologia da prosperidade. Deixo
também um pequeno comentário acerca de cada trecho, mas estou certo de que a
Palavra de Deus é poderosa, por si mesma, para derrubar essa falsa doutrina.
Primeiramente, consideremos
o que o Senhor Jesus nos ensinou – considerando também que, se o chamamos de
Senhor, deveríamos obedecê-lo (Lc 6:46), ao invés de ignorar ou distorcer suas
ordens, que são tão claras e diretas:
“Não acumuleis para vós
outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões
escavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça
nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde
está o teu tesouro, aí estará também o teu coração.” (Mateus 6:19-21) “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a
terra” é uma ordem direta. Não precisamos estudar teologia para compreender
algo tão evidente.
“Ninguém pode servir a
dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se
devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
Por isso, vos digo: não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis
de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é
a vida mais do que o alimento, e o corpo, mais do que as vestes?” (Mateus
6:24-25) O Senhor nos obriga
escolher entre Deus e as riquezas. Não é possível servir aos dois. Ou vivemos
pelo “ser”, buscando a Deus para sermos uma nova criatura que frutifique em
amor para sua glória, ou vivemos pelo “ter”, buscando acumular riquezas
materiais na ilusão de que isso glorifica a Deus.
“Tende cuidado e
guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste
na abundância dos bens que ele possui.” (Lucas 12:15) Confira também o restante desse capítulo, no qual o
Senhor deixa claro que a nossa vida consiste em sermos ricos “para com Deus”, o
que nada tem a ver com ter abundância de bens.
“Vendei os vossos bens e
dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro
inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome, porque,
onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.”(Lucas 12:33,34) Jesus ordenou esse desprendimento a todos, não
somente aos apóstolos. Juntar tesouros nos céus significa crescer em virtudes e
valores, tais como a compaixão e a humildade – devendo ser esse o foco da nossa
vida, o crescimento espiritual, e não o ganhar mais dinheiro.
“Assim, pois, todo aquele
que dentre vós não renuncia a tudo quanto tem não pode ser meu
discípulo.”(Lucas 14:33) Ao
invés de ensinar a renúncia, a teologia da prosperidade ensina a
ganância.
“É mais fácil passar um
camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”(Marcos
10:25) Sendo as riquezas algo
tão perigoso, a ponto de colocar em risco a própria salvação, por que Jesus
iria querer que seus seguidores fossem ricos? Mas a teologia da prosperidade
ensina essa mentira, a de que Deus deseja que todos os seus filhos sejam ricos.
Agora, consideremos como
viviam os primeiros (e genuínos) cristãos, segundo nos é revelado no livro de
Atos dos Apóstolos:
“Vendiam as suas
propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém
tinha necessidade.”(Atos 2:45) Isso
nos mostra o desapego que os discípulos tinham em relação aos bens materiais,
porque eles compreendiam que a verdadeira riqueza é Cristo.
“Da multidão dos que
creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem
uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum.” (Atos
4:32) Havia um desejo por
compartilhar, muito diferente da cobiça e ganância que é gerada pelos
pregadores da teologia da prosperidade.
“Pois nenhum necessitado
havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as,
traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos;
então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha
necessidade.” (Atos 4:34-35) Será
que os pregadores da prosperidade, que chamam as ofertas de “sementes” e que
pedem para “semear” em seus ministérios, estariam dispostos a repartir o
dinheiro que arrecadam com quem tiver necessidade?
E, finalmente, consideremos
o que ensinaram os verdadeiros apóstolos:
“Porque nada temos
trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com
que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em
tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as
quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de
todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se
atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas
coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a
mansidão.”(1Timóteo 6:7-11) “Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” é o contrário do que ensina
a teologia da prosperidade, que motiva o crente a querer ser rico, mesmo com a
advertência de Paulo, de que “os que querem ficar ricos caem em tentação, e
cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam
os homens na ruína e perdição” É difícil compreender como um crente pode ser
tão cego e continuar desejando riquezas, quando Paulo nos ordena fugir dessas
coisas.
“sejam ricos de boas
obras, generosos em dar e prontos a repartir”(1Timóteo 6:18) Foi isso que Paulo instruiu que Timóteo dissesse aos
ricos. Eis a verdadeira riqueza que Deus espera encontrar em nós: o amor ao
próximo, não somente de palavras, mas por obras e em verdade.
"Porque o reino de
Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito
Santo."(Romanos 14:17) Para
os pregadores da teologia da prosperidade, no entanto, o reino de Deus é comer
o melhor desta terra.
“Seja a vossa vida sem
avareza. Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele tem dito: De
maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei.”(Hebreus 13:5) “Contentai-vos com as coisas que tendes”. Será
preciso dizer mais alguma coisa?
É tão claro e evidente que a
teologia da prosperidade contraria o ensino de Cristo e dos apóstolos que me
sinto ridículo em mostrar esses versículos. Todo cristão já deveria saber
disso! Para que fique ainda mais evidente o contraste, comparemos o ensino da
doutrina cristã com aquilo que ensinam os pregadores dessa teologia diabólica:
Sobre o acúmulo de bens
materiais
Ensino de Jesus e dos
apóstolos: Não acumulem bens sobre a terra, a não ser para se repartir com os
necessitados.
Ensino da teologia da
prosperidade: “Quanto mais bens você acumular para si mesmo, maior será o sinal
da bênção de Deus sobre a sua vida”.
Sobre desejar as riquezas
Ensino de Jesus e dos
apóstolos: Não devemos desejar riquezas.
Ensino da teologia da
prosperidade: “Devemos desejar riquezas.”
Sobre o contentamento
Ensino de Jesus e dos
apóstolos: Devemos viver contentes com o que temos.
Ensino da teologia da
prosperidade: “Não devemos nos contentar com pouco.”
Sobre os pobres
Ensino de Jesus e dos
apóstolos: Os pobres são bem-aventurados. (Lc 6:20; Tg 2:5)
Ensino da teologia da
prosperidade: Pobreza é escravidão e ser pobre é pecado.
Antes de concluir, quero
esclarecer que não faço apologia da pobreza, como se ela fosse um fim em si
mesma. Ser pobre não é sinônimo de salvação, assim como ser rico não é sinônimo
de perdição. Embora Jesus tenha afirmado que um rico dificilmente consegue
entrar no reino de Deus, ele mesmo completou que "os impossíveis dos
homens são possíveis para Deus." (Lucas 18:25-27) No entanto, fazer dessa
ressalva de Jesus uma norma é como fazer da exceção a regra.
Encerro com o testemunho de
Jim Bakker, pastor norte-americano que se enriqueceu pregando a teologia da
prosperidade, ou seja, convencendo seus ouvintes a que semeassem dinheiro em
seu ministério, com a promessa de que ficariam ricos. Após perder toda a sua
pequena fortuna e se ver na pobreza, Bakker se dedicou a examinar as
Escrituras, a fim de encontrar o que havia saído errado. Acerca disso, ele
escreveu:
“Passei meses lendo cada
palavra dita por Jesus. Eu as escrevi por muitas e muitas vezes, e também as li
por muitas e muitas vezes. Se você aceitar o conselho inteiro da Palavra de
Deus, não há como interpretar as riquezas ou as coisas materiais como um sinal
da bênção de Deus [...] Já pedi que Deus me perdoasse por haver pregado a
prosperidade terrena. Jesus não ensinou que as riquezas são um sinal da bênção
de Deus. Jesus disse: ‘Estreito é o caminho que conduz à vida e são poucos os
que entram por ele’. [...] Já está na hora de conclamação sobre o púlpito ser
mudada de ‘quem quer uma vida de prazeres, casas novas, carros, possessões e
bens materiais’ para ‘quem quer vir à frente e receber Jesus Cristo, para
segui-lo em seus sofrimentos.” [4]
Jim Bakker releu os livros
do Novo Testamento e despertou para a verdade. Só que foi tarde demais para
ele, que além de perder todo seu dinheiro, ainda foi condenado por 24 acusações
de fraude. [5]Releia os ensinamentos de Cristo, antes que seja tarde
demais para você.
“Porque vos foi concedida a
graça de padecerdes por Cristo
e não somente de crerdes
nele” (Filipenses 1:29)
Alan Capriles
________________
[1] “Pobreza é escravidão!”
– “Bíblia de Estudo Batalha Espiritual e Vitória Financeira” – página xxvii –
1ª edição – editora Central Gospel (2007).
“Ser pobre é pecado” –
Robert Tilton, “Success-N-Life”, programa pela televisão (27 de dezembro de
1990)
[2] Assista Jonh Piper falar
sobre a teologia da prosperidade clicando aqui.
[3] Acerca do cuidado que
devemos ter ao se pregar no Antigo Testamento, destaco a seguinte declaração do
príncipe dos pregadores: “O antigo pacto era [de fato] um pacto de
prosperidade. O novo pacto é [no entanto] um pacto de adversidades, mediante o
qual estamos sendo desmamados deste mundo presente e nos preparando para o
mundo vindouro.” (Charles Haddon Spurgeon, comentando sobre Jó 8:11-13, sermão
651 dos sermões pregados durante o ano de 1865)
[4] Jim Bakker, citado por Terry Mattingly, “Prosperity Christian’ Sing
a Diferent Tune” Rocky Mountain News (16 de agosto de 1992), pág. 158.
[5] HANEGRAAFF, Hank -
Cristianismo em Crise - 4ª edição (CPAD - 2004) Pág. 233
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